Data: 05/03/2016
Horário: 20h30 (abertura)
Local: Red Eventos
Endereço: Avenida Antarctica, 1530 - JAGUARIUNA/SP
Taxa de conveniência: 13.00%
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Estratosférica, o novo álbum de Gal
Costa, pode ser definido a partir dos versos de "Sem Medo nem Esperança”,
escritos para ela pelo poeta Antonio Cicero e musicados por Arthur
Nogueira: "Nada do que fiz, por mais feliz, está à altura do que há
por fazer".
Conversei muito com Cicero a respeito disso. Ponderei quantos destinos e cabeças Gal já havia transformado com seus graves e agudos, emitidos com a pureza de quem está em estado de meditação. E sobre quantos mais ela ainda poderia transformar.
Embora marque os 50 anos de carreira da maior cantora do Brasil, o trabalho se embrenha por caminhos muito mais arriscados. Foge da saudade de tudo de tão sólido que já foi construído por Gal nestas cinco décadas e, em vez de cair em segura repetição retrospectiva, busca só
"o que há por fazer".
Marcelo mandou “Espelho d’Água”,
sua primeira parceria com o irmão,Thiago Camelo, que está em vias de publicar
seu segundo livro de poesia. Essa, aliás, nós usamos para batizar o show de
voz, guitarra e violão que Gal e o músico Guilherme Monteiro fizeram
no ano passado, com direção minha. Já está testada e aprovada ao vivo.
Céu, Pupillo e Junio
Barreto compuseram “Estratosférica” sob encomenda, numa madrugada, já nos
últimos dias de estúdio. E a exuberância que a imagem do título da canção
aponta nos levou ao nome do disco. Assim que botou a voz, Gal sugeriu:
“Ouço aqui uns sopros de Lincoln Olivetti, como em ‘Festa do Interior’.
Vamos pedir a ele?”. Lincoln topou. E foi esse o último arranjo que fez na
vida.
Mas Lincoln Olivetti surge em “Estratosférica” também como compositor.
A caymmiana “Muita Sorte” é tema inédito escrito por ele com o parceiro Rogê.
Junio Barreto é o único autor com duas canções no disco físico.
Além de “Estratosférica”, também é dele a visceral “Jabitacá” (nome de uma serra na divisa entre Pernambuco e Paraíba), escrita com Lira, ex-líder da banda Cordel do Fogo Encantado.
Vivendo em Nova York, a cantora e atriz Thalma de Freitas enviou “Ecstasy”, uma canção construída por ela (letra e a melodia) sobre uma das muitas harmonias que João onato deixou gravada no laptop dela. Ter Donato – e ele toca Rhodes na faixa – por perto cria uma ponte
com aquela Gal que já experimentava as delicadezas “donatianas” no clássico álbum “Cantar”, de 1974.
Mallu Magalhães é a caçula
do time. E mandou a canção mais deliciosamente pop: a jorgebenjoriana “Quando
Você Olha pra Ela”.
A faixa foi escolhida como single de “Estratosférica” e vai ganhar um videoclipe nas próximas semanas.
Tom Zé, que não aparecia em uma ficha técnica de Gal desde que “Namorinho de Portão” surgiu no primeiro álbum solo dela, em 1969, mandou a sexy “Por Baixo”.
“Casca” tem música de Alberto Continentino e letra de Jonas Sá, grande mago pop da cena carioca contemporânea.
Já em estúdio, Moreno Veloso trouxe “Anuviar”, feita com Domenico Lancellotti.
“Você me Deu” inaugura a parceria entre Caetano Veloso e seu filho do meio, Zeca Veloso. Ela fecha o disco lembrando da importância de “Recanto”, álbum dirigido por Caetano em 2011, para que “Estratosférica” pudesse acontecer.
Entre as faixas-bônus, que vão surgir apenas na versão digital de “Estratosférica”, há outra estreia importante. “Vou Buscar Você pra Mim” é a primeira canção de Guilherme Arantes gravada por Gal. Era um sonho do compositor, ele me disse. Contei para Gal e ouvi de volta:
“Mas eu sempre quis que Guilherme fizesse alguma coisa para mim.
Ah, se eu soubesse...”.
“Átimo de Som”, a outra faixa exclusiva da versão digital, tem letra deArnaldo Antunes e música de Zé Miguel Wisnik.
Gal estava presente em tudo
desde o início, ajudou a levantar os arranjos de base, deu palpites
fundamentais em todas as fases da produção musical. Depois disso, os produtores
musicais levaram o material para o Studio Marini, de Kassin.
A foto da capa foi feita por Bob Wolfenson.
Começamos a trabalhar, Gal e eu, em setembro de 2013. Fui atrás dos compositores, sobretudo artistas da nova geração, e cheguei a recolher um baú de 150 canções inéditas. Passávamos as tardes na casa dela, soterrados em dezenas de páginas com letras impressas e arquivos mp3. Ela ouvia, anotava, voltava, cantarolava por cima, separava. Podíamos ter feito dez discos, talvez ainda façamos. Quando entramos em estúdio, um ano depois do primeiro encontro, ela disse (e depois repetiu muitas vezes) aos produtores musicais Kassin e Moreno Veloso: “Enlouqueçam nos arranjos. Não quero nada careta. Quero um disco arrojado”. O disco está feito.
Voltemos agora à canção de Arthur Nogueira e Antonio Cicero.
A expressão “sem medo nem esperança” nada tem nada ver com não acreditar em um futuro melhor, como poderia indicar uma interpretação desconcentrada. Ao contrário, ela quer nos levar a um viver profundo do momento presente, pois é nele que está a raiz do porvir. Assim – carpe diem! –, pegando o tempo presente nas mãos, pela boca e pelos cabelos,Gal fez outro trabalho arrebatador em seus 50 anos de carreira.
E, ela sabe, ainda há muito por fazer.
Marcus Preto
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