Data / Hora
28/05/2016 19h00 - 21h0029/05/2016 18h00 e 20h00
No aniversário de 50 anos de sua descoberta, Clementina de Jesus ganha homenagem no teatro dirigida por Duda Maia
Clementina de Jesus da Silva, neta de escravos, doméstica e descoberta como cantora aos 63 anos de idade. Há exatamente 50 anos Clementina tornava-se uma das mais importantes sambistas, considerada como rainha do partido alto. O musical “Clementina, cadê você?” não é uma biografia. “Busquei a fala da Clementina com textos publicados em jornais. Costurei uma dramaturgia de reminiscências, de lembranças que narra a trajetória pessoal e artística da sambista”, detalha o autor Pedro Murad. A direção é de Duda Maia. Ana Carbatti interpreta a personagem título acompanhada de 5 atores/músicos: Bruno Barreto, Bruno Quixotte, Sergio Kauffmann, Vidal Assis e Wendell Bendelack. “Clementina, cadê você?”, contemplado com o Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz 2012, estreia dia 15 de outubro na Casa de Cultura Laura Alvim. “Clementina não é o Brasil moderno, nem o Brasil Arcaico. Essa grande artista está na fronteira. Ela é uma personagem de transição do país, que chama muito atenção. Clementina representa o negro urbano descendente de escravos, a cultura negra carioca. A peça mostra como essa preta velha enxerga o Brasil do século XX”, conta o autor.
Pela primeira vez assinando sozinha a direção de um espetáculo, Duda Maia já participou de 80 peças e trabalhou com vários diretores importantes da cena teatral. Durante 12 anos foi a responsável pela direção de movimento e assistência de direção das encenações de João Falcão, como: Clandestinos, Gonzagão, O Pequeno Príncipe, Ensina me a Viver, entre outros. Também trabalhou com Aderbal Feire Filho e André Paes Leme. “Nasci no Rio, mas morei em Recife desde pequena. Voltei para a minha cidade aos 19 anos. Em 2000 trabalhava na peça Lisbela e o Prisioneiro, quando o Guel Arraes me apresentou ao João. Na época, assisti A Máquina, enlouqueci. Desde então não me separei profissionalmente do João”, revela a diretora.
A pesquisa para o texto foi baseada em publicações, principalmente na entrevista que Clementina fez para o Pasquim, em maio de 1972. “Fugindo da biografia tradicional, estruturei um texto de cunho mais autoral com as próprias falas da Clementina. Uma dramaturgia não linear com toques ficcionais abordando as questões mais singelas da personagem. Os fatos aconteceram e me permiti licença poética” detalha Murad. A peça mostra desde a infância de Clementina em Valença (Estado do Rio) até o descobrimento da cantora pelo produtor Hermínio Bello de Carvalho; o reconhecimento tardio da crítica e público; passando pela Portela; rodas de samba; Mangueira; Rosa de Ouro; as festas nas Igrejas da Penha e São Jorge. “Editamos cenas, cantamos e contamos a vida de Clementina. É uma grande colcha de retalhos. O fascinante na personagem é a simplicidade em que ela imprimia em todas as atitudes e momentos”, descreve Duda Maia.
Os atores/músicos fazem todos os personagens que passaram pela vida da sambista. O Albino Pé Grande, marido da Clementina, é representado pelos cinco. A diretora usou a personalidade de cada ator para retratar as facetas do Albino: romântico, preguiçoso, maduro, criança, etc. “Não há truques, os atores não saem de cena. Utilizo o jogo teatral e pelo movimento, quase um ballet sem coreografia, consigo dar linguagem ao movimento de cena”, diz a diretora.
São 25 músicas, nem todas cantadas na íntegra, acompanhas por pandeiro, cavaquinho, violão, tantã, flauta e tambor. Vidal Assis, músico parceiro do Hermínio Bello de Carvalho, participa do espetáculo e compôs uma música inédita para a peça. Os atores/músicos se revezam em formação variada. Normalmente os musicais mostram atores cantando com uma banda de suporte, porém em “Clementina, cadê você?” são seis pessoas que fazem tudo: cantam, interpretam, tocam e dançam. “O espetáculo é simples, não tem a estrutura dos grandes musicais. Clementina Cadê Você tem força, tudo na base da simplicidade” diz o diretor musical Pedro Miranda. Completam a ficha técnica, Clívia Cohen que assina o figurino e o cenário composto por uma mesa e seis caixotes, além de Renato Machado, responsável pela iluminação.
Com 30 anos de carreira, pela primeira vez Ana Carbatti é a protagonista de um musical. “A Duda trabalhou muito na direção do movimento, isso me ajudou na composição da personagem e também da postura. Tenho 43 anos e a peça começa com uma cena onde a Clementina tem 30 ou 40 anos a mais que eu. Apesar disso, o processo de construção da personagem me pareceu muito natural, fácil, orgânico, pois não buscamos imitar a Clementina. Procuramos a essência dela através da música, isso foi fundamental. Não tentamos copiar. Encontramos a Clementina dentro da minha voz, pois nosso timbre não é igual. A idéia era buscar a sonoridade dela, o jeito de cantar, os trejeitos e movimentos”, finaliza a atriz.
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